Ele mantém a cabeça ocupada, como se assim evitasse a doença do amor. Para não pensar no que já lhe tomou todo o corpo. E assim se divide em dois. Dois ou mais. Nunca está inteiro. Nunca está. Como se já se tivesse ido também. Mas há uma dor em suportar sua própria ausência. O que lhe parecia remédio agora dói. E não cura
domingo, 27 de dezembro de 2009
Ausência.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
De Manuh
Se és liberto, amor.
Liberta-me pois, também.
Tira do meu peito a dor.
Faz-me, enfim, o bem.
para Jéssica
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
domingo, 20 de setembro de 2009
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Aconteceu.
Aconteceu
O que aconteceu
Foi melhor assim
Estava por um fio
Estava por um triz
Estava já no fim
Todo mundo via
Que acontecia
Pois aconteceu
Era o que devia
Quando um descaminho
Acha o seu desvio
Tudo se alivia
Foi melhor assim
Quando dei por mim
Já estava aqui e agora
Marisa Monte, Arnaldo Antunes
sábado, 22 de agosto de 2009
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Que eu já tô ficando craque em ressurreição.
Bobeou eu tô morrendo
Na minha extrema pulsão
Na minha extrema-unção
Na minha extrema menção
de acordar viva todo dia
Há dores que sinceramente eu não resolvo
sinceramente sucumbo
Há nós que não dissolvo
e me torno moribundo de doer daquele corte
do haver sangramento e forte
que vem no mesmo malote das coisas queridas
Vem dentro dos amores
dentro das perdas de coisas antes possuídas
dentro das alegrias havidas
Há porradas que não tem saída
há um monte de “não era isso que eu queria”
Outro dia, acabei de morrer
depois de uma crise sobre o existencialismo
3º mundo, ideologia e inflação…
E quando penso que não
me vejo ressurgida no banheiro
feito punheteiro de chuveiro
Sem cor, sem fala
nem informática nem cabala
eu era uma espécie de Lázara
poeta ressucitada
passaporte sem mala
com destino de nada!
A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
ensaiar mil vezes a séria despedida
a morte real do gastamento do corpo
a coisa mal resolvida
daquela morte florida
cheia de pêsames nos ombros dos parentes chorosos
cheio do sorriso culpado dos inimigos invejosos
que já to ficando especialista em renascimento
Hoje, praticamente, eu morro quando quero:
às vezes só porque não foi um bom desfecho
ou porque eu não concordo
Ou uma bela puxada no tapete
ou porque eu mesma me enrolo
Não dá outra: tiro o chinelo…
E dou uma morrida!
Não atendo telefone, campainha…
Fico aí camisolenta em estado de éter
nem zangada, nem histérica, nem puta da vida!
Tô nocauteada, tô morrida!
Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa
não tem aquela ansiedade para entrar em cena
É uma espécie de venda
uma espécie de encomenda que a gente faz
pra ter depois ter um produto com maior resistência
onde a gente se recolhe (e quem não assume nega)
e fica feito a justiça: cega
Depois acorda bela
corta os cabelos
muda a maquiagem
reinventa modelos
reencontra os amigos que fazem a velha e merecida
pergunta ao teu eu: “Onde cê tava? Tava sumida, morreu?”
E a gente com aquela cara de fantasma moderno,
de expersona falida:
- Não, tava só deprimida.
Elisa Lucinda
domingo, 2 de agosto de 2009
quinta-feira, 30 de julho de 2009
quarta-feira, 29 de julho de 2009
terça-feira, 28 de julho de 2009
Classificado.
Vende-se, urgente, grande coleção de medos, em ótimo estado. Único dono, que vem colecionando todos eles desde bem pequeno. Pequeno defeito no altímetro da acrofobia. Acompanha um mata-baratas pela metade, um grito um tantinho rouco pelo uso, duas garrafas de álcool, cinco gotas de frio na espinha e dois frascos de pânico. Aceita-se troca por bilhetes de montanha-russa não utilizados ou sorrisos que causem taquicardia, desde que em quantidades insuficientes para que se sinta alguma dor. Motivo: mudança. Tratar diretamente com o proprietário (mas somente em lugares abertos, por ele ser claustrofóbico)
André Gonçalves
domingo, 26 de julho de 2009
A Hora do cansaço.
As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
Carlos Drummond Andrade
sexta-feira, 24 de julho de 2009
quinta-feira, 23 de julho de 2009
terça-feira, 21 de julho de 2009
Debaixo D´Água
Debaixo dágua tudo era mais bonito
mais azul mais colorido
só faltava respirar
Mas tinha que respirar
Debaixo dágua se formando como um feto
sereno confortável amado completo
sem chão sem teto sem contato com o ar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Debaixo dágua por encanto sem sorriso e sem pranto
sem lamento e sem saber o quanto
esse momento poderia durar
Mas tinha que respirar
Debaixo dágua ficaria para sempre ficaria contente
longe de toda gente para sempre
no fundo do mar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Debaixo dágua protegido salvo fora de perigo
aliviado sem perdão e sem pecado
sem fome sem frio sem medo sem vontade de voltar
Mas tinha que respirar
Debaixo dágua tudo era mais bonito
mais azul mais colorido
só faltava respirar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
(Arnaldo Antunes)
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Recado II.
Às vezes fico pensando naquilo que queria, mas que tenho experimentado no meu cotidiano uma forte presença de uma repesentação onde é concebível a divisão, o fim. Porém, essa representação permite, em certos momentos crer na unidade, na indivisilibidade e é nisso que acredito, pois é o caminho mais difícil por isso o mais belo.
Nunca acreditei nas coisas fáceis. Talvez seja incessante a vontade de entender tudo. Eu só busco a calma e assim encontrar novos meios para me exprimir diante do mundo cada vez mais louco, com pessoas cada vez mais tristes. É como se daquilo que vivemos restasse apenas os ossos, o que é cru e sem sabor de alma. Não quero ser estanque como quem começa a viver e não caminha. Contudo prefiro melhorar mesmo não acreditando mais na imperecibilidade dos sonhos embora eles vivam eternamente.
c.e.n
domingo, 19 de julho de 2009
sábado, 18 de julho de 2009
Palavras.
Palavras Bonitas e que gosto:
lânguida
poema
amora
zênite
persa
flora
escarlate
corsário
negro
acalanto
colo
vento
póstuma
rogar
piedade
quilombo
fado
domo
espádua
vertigem
xadrez
febre
teia
mar
infinito
cais
caos
vermelho
entranhas
olvidar
não
lograr
misericórdia
silêncio
calado
aritmética
ar
areia
eslavo
Praga
malícia
astúcia
figos
umbrella
odisséia
ilíaca
Alice
pálido
rubéola
neblina
madrugada
cálice
Sofia
palavra
gárgula
tez
pêssego
lilás
saudade
lágrima
terra
mágoa
carma
íris
seda
leme
malemolência
cílios
mistério
eclipse
sete
setembro
inverno
amêndoa
coral
pálpebra
áspero
oceano
pacífico
atlântico
rio
calabouço
gangorra
masmorra
lápis
milagre
sangue
rubro
bruto
delicadeza
panamá
joão
suez
lépida
veloz
atroz
montenegro
évora
marfim
ébano
especiarias
madeira
assaz
tarde
aurora
crepúsculo
vil
gosto
impávido
céu
armazém
bendito
ventre
véu
alma
abraço
alecrim
nódoa
fim
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Hoje.
Um vídeo-poema produzido por Pablo Carvalho que expressa seu desejo por mudanças na postura sóciopolitico brasileira.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Recado.
Gostar de você é um sentimento crescente e uma vontade incontrolável. É gostar também é vontade. Sentir você também é muito bom, sinto você quando pego no telefone e ele toca, quando acabo de pedir à Deus sua presença e você chega, quando juro dizer a verdade, quando digo que te adoro e você ainda supõe, o céu e me supera.
Ainda haverei de surpreender você de mãos fechadas e olhando para mim ( com os olhos derramados mais derramados) como se não pudesse, mesmo que possa. Sei que nosso quê de secreto jamais acabará, que se errarmos bateremos na porta um do outro ao mesmo tempo ou nos encontraremos no caminho antes de passar uma borboleta ou qualquer coisa que te faça me lembrar.
c.e.n
domingo, 12 de julho de 2009
Correspondência I
Aqui,XX de Julho de 2XXX,
Tive uma ideia, experimentar-nos no que escrevemos. Acredito que há coisas que só podem ser ditas quando escritas. Ao escrever tratamos sempre com leveza os terrmotos que afligem e dissipam nossa atenção, por isso coloquemos ora ao telefone, ora ao vivo em presença e olhares e inevitávelmente prolonguemos nossas participação nesses universos finitos, mas eternamente desfolheados, através daqui, papel.
Apenas, talvez, seja uma desculpa para enveredar um pouco mais em seu mundo, que como já sabe compreendendo que seja somente seu. Ouso demais porque não consigo conter o apreço que tenho por você. Sua criatividade e emoção são lembranças constantes e encantam meus dias lentos e miúdos.
Deixo um beijo, um abraço e votos de que jamais percamos o contato.
Todo Seu,
c.e.n
sábado, 11 de julho de 2009
A insustentável leveza do ser
“Todas as línguas derivadas do latim formam a palavra “compaixão” com o prefixo com — e a raiz passio, que originalmente significa “sofrimento”. Em outras línguas, por exemplo em tcheco, em polonês, em alemão, em sueco, essa palavra se traduz por um substantivo formado com um prefixo equivalente seguido da palavra “sentimento” (em tcheco: soucit; em polonês: wspol-czucie; em alemão: Mitgefühl; em sueco: med-känsla).
Nas línguas derivadas do latim, a palavra compaixão significa que não se pode olhar o sofrimento do próximo com o coração frio, em outras palavras: sentimos simpatia por quem sofre. Uma outra palavra que tem mais ou menos o mesmo significado: piedade (em inglês pity, em italiano pietà, etc.), sugere mesmo uma espécie de indulgência em relação ao ser que sofre. Ter piedade de uma mulher significa sentir-se mais favorecido do que ela, é inclinar-se, abaixar-se até ela.
É por isso que a palavra compaixão inspira, em geral, desconfiança; designa um sentimento considerado de segunda ordem que não tem muito a ver com o amor. Amar alguém por compaixão não é amar de verdade.
Nas línguas que formam a palavra compaixão não com a raiz “passio: sofrimento”, mas com o substantivo “sentimento”, a palavra é empregada mais ou menos no mesmo sentido, mas dificilmente se pode dizer que ela designa um sentimento mau ou medíocre. A força secreta de sua etimologia banha a palavra com uma outra luz e lhe dá um sentido mais amplo: ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com alguém sua infelicidade, mas é também sentir com esse alguém qualquer outra emoção: alegria, angústia, felicidade, dor. Essa compaixão (no sentido de soucit, wspol-czucie, Mitgefühl, med-känsla) designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afetiva — a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sentimento supremo.
…“
Milan Kundera